O que ocorre?
Corro agora para longe,
sem divã, nem dinheiro.
Página em branco...
Tento, sim, planar
sobre o mundo inteiro.
A página ...
virada ...
vi(ra)da,
irada...
raiar espelho de raiar*raiar
Assim caminhamos,
escrevendo
páginas.
Assim também
cópias ilegítimas do não viver...
repetem-se ...
tem-se...
se...
Só descanso se for...
embora,
já é hora.
By Tânia Barros
20 dicembre 2007
O Pleno e o Vazio
Crônica
O Pleno e o Vazio
Era meio de semana, um calor daqueles... 39 graus, e o último dia de verão. Decido mergulhar no mar, uma vez que a estação findara e minha pele ainda estampava a cor da última primavera.Estiquei a canga na areia. Olhei em volta, já confortável em minha cadeira de praia: mar calmo, e transparentes águas. A primeira impressão é de comunhão, uma vez que muitos tiveram a mesma idéia nesta manhã de areias quentes e concorridas.
E-mail de contato: brazil_dos_livros@hotmail.com
Já ouviram vovó Jovelina cantando dentro de ônibus? Nossa viagem vira um deleite. Perdeu a visão num erro de cirurgia, e agora não pode mais trabalhar como diarista. Vive de ajuda e de parcos ganhos com sua bela voz. Canta Ari Barroso, Pixinguinha... pelo pouco que sei e vi, dentro de ônibus. Vai cantando e contando sua história.Linda! Uma personagem e tanto sobre a qual gostaria de escrever. Alguém a conhece?
O Pleno e o Vazio
Era meio de semana, um calor daqueles... 39 graus, e o último dia de verão. Decido mergulhar no mar, uma vez que a estação findara e minha pele ainda estampava a cor da última primavera.Estiquei a canga na areia. Olhei em volta, já confortável em minha cadeira de praia: mar calmo, e transparentes águas. A primeira impressão é de comunhão, uma vez que muitos tiveram a mesma idéia nesta manhã de areias quentes e concorridas.
Vejo, então, a magra mulher de meia idade que há poucos dias ali mesmo estava quando eu caminhava no calçadão. Ajoelhada na areia, aquelas mãos realizavam vertiginoso trabalho de retirar das sacolas que a rodeavam as mais diversas embalagens, sacos, papeis variado em cores e tamanhos. Para cada saquinho retirado era dedicada especial atenção: desdobrava-o para depois dobrá-lo com maior capricho ainda. Findada a dobradura devolvia tudo à sacola maior, destinada aos saquinhos já vistoriados.
Chegara a vez de uma dessas reluzentes embalagens de batata frita. E o ritual: desenrola, desamassa, abre, olha o interior, e esfrega um pequeno pano. Esfrega com tal intensidade que se poderia deduzir fosse possuidora de larga experiência nos serviços domésticos, mas agora, sem teto e trabalho, restava-lhe cuidar bem dos únicos pertences, tudo aquilo que lhe poderia ser útil, e mesmo inútil, nas ruas da amargura, nas noites de inverno, nos dias de verão - outros que virão. Guardava, assim, também os gestos que lhe eram ainda familiares, como o de limpar algo, cuidar de, ser responsável por. Esta crível mulher do terceiro mundo, globalizado, realizava seu trabalho sem em momento algum levantar os olhos para aqueles que, como ela, banhavam-se ao sol daquela manhã.
Penso que sabia estar sendo observada como um ator no palco, ou como um animal na jaula, mas não encarava a platéia, porque certamente era um difícil papel para se viver, e o pior, provavelmente, é o que ela estaria percebendo da platéia quando esta ousava olhar para a maltrapilha. Talvez percebesse o quanto era ignorada.
Fechada a sacola - a dos papeis e sacos - sem hesitar pegou uma bolsa feminina, de couro velho e ressecado. Abriu, observou o interior, e dá início a retirada dos objetos. Em primeiro lugar uma carteira que continha uns papeis. Ela os confere e guarda. Depois, um frasco de perfume. Retira a tampa, cheira, coloca um pouquinho no pulso, cheira novamente e, com firmeza, num gesto de glorioso desapego, joga areia abaixo o líquido do frasco que retorna para a bolsa vazio desta vez. Vazio como as outras embalagens. Talvez, por algum motivo minha heroína tenha decidido mesmo é colecionar embalagens.
Era a vez do espelhinho. Deteve-se um pouco mais neste objeto. Sim, deteve-se foi no poder mágico do espelho que, inadvertidamente, deslocou o objeto a ser observado. A mulher parece conferir sua identidade, ou buscar o reflexo do que fora há alguns anos naquela breve e cruel imagem estampada no espelho que, de certa forma e, ao mesmo tempo, tanto a identificava com a imagem de milhares de humanos no mundo, como lhe relatava uma dor íntima, só dela: a miséria e a solidão? E num ato de rebelião contra tal estado de coisas joga esta imagem recolhida de volta à bolsa.
Fechada a sacola - a dos papeis e sacos - sem hesitar pegou uma bolsa feminina, de couro velho e ressecado. Abriu, observou o interior, e dá início a retirada dos objetos. Em primeiro lugar uma carteira que continha uns papeis. Ela os confere e guarda. Depois, um frasco de perfume. Retira a tampa, cheira, coloca um pouquinho no pulso, cheira novamente e, com firmeza, num gesto de glorioso desapego, joga areia abaixo o líquido do frasco que retorna para a bolsa vazio desta vez. Vazio como as outras embalagens. Talvez, por algum motivo minha heroína tenha decidido mesmo é colecionar embalagens.
Era a vez do espelhinho. Deteve-se um pouco mais neste objeto. Sim, deteve-se foi no poder mágico do espelho que, inadvertidamente, deslocou o objeto a ser observado. A mulher parece conferir sua identidade, ou buscar o reflexo do que fora há alguns anos naquela breve e cruel imagem estampada no espelho que, de certa forma e, ao mesmo tempo, tanto a identificava com a imagem de milhares de humanos no mundo, como lhe relatava uma dor íntima, só dela: a miséria e a solidão? E num ato de rebelião contra tal estado de coisas joga esta imagem recolhida de volta à bolsa.
Sentia-se, talvez, ela mesma uma embalagem desgastada e sobrevivente, sendo que ela enfrentava o embate da sua angústia no difícil deparar-se com seus conteúdos perdidos... a cidadania roubada. O que lhe gritava? Sua razão de ser não era aquela para a qual estava sendo. E um saquinho de batatas fritas é pleno também quando já vazio, sem conteúdo. Mas ela era humana. Seu conteúdo estava todo lá, ou aqueles possíveis ainda, somente o envólucro distorcia a realidade. Era o mundo, este mundo que assim transformara sua pele e roupas em um trapo, e sem poder fazer muito a respeito, cuidava dos trapos que recolhia, mas estes já sem conteúdo.Sentou-se na areia abraçando as pernas e pela primeira vez mirou o mar, bem no horizonte. O que via ali? Que pensamentos, sentimentos, o primordial gesto de olhar o horizonte lhe traria agora?
Mas não se deteve muito e de arranco pegou um copo descartável ao seu lado, tomou um gole de algo, cuspiu fora, como se quente estivesse, ou apenas como se querendo esvaziar o copo somente. Líqüido qualquer que não podia matar tal sede, nem preencher tal vazio naquele instante, naquela existência. Levantou-se. Percebo-lhe o traje: apenas a longa camiseta verde rasgada nas costa deixando entrever o sutiã. Seus cabelos desciam à altura do peito. Foram lisos, agora, emaranhados. A pele da face - por força curtida pelo sol - se encarregava do contraste com a branca cabeleira. Usava um colar de enormes bolas amarelas, e pensei que aquela senhora, praieira, sim, e excluída, carregava em si um símbolo nacional. Mas não seriam as cores da bandeira, não, meu senhor!
Mas não se deteve muito e de arranco pegou um copo descartável ao seu lado, tomou um gole de algo, cuspiu fora, como se quente estivesse, ou apenas como se querendo esvaziar o copo somente. Líqüido qualquer que não podia matar tal sede, nem preencher tal vazio naquele instante, naquela existência. Levantou-se. Percebo-lhe o traje: apenas a longa camiseta verde rasgada nas costa deixando entrever o sutiã. Seus cabelos desciam à altura do peito. Foram lisos, agora, emaranhados. A pele da face - por força curtida pelo sol - se encarregava do contraste com a branca cabeleira. Usava um colar de enormes bolas amarelas, e pensei que aquela senhora, praieira, sim, e excluída, carregava em si um símbolo nacional. Mas não seriam as cores da bandeira, não, meu senhor!
Da bolsa de couro retira um pente, senta-se de novo e, com determinação, empenha-se no desembaraço dos cabelos - quase 45 minutos de trabalho. Mas, quanto tempo levará o desembaraço da vida? Dessa vida?
O que é o último dia do verão para cada um de nós?
Pode ser um mergulho em águas frescas, pode ser um mergulho em águas rasas, ou em águas turvas e bravias, e para um escritor, talvez, seja um dia igual a todos os outros dias em que não apenas olhou, mas viu, e não apenas viu, mas assim escreveu, do mergulho que deu no mergulho que viu.
By Tânia Barros
E-mail de contato: brazil_dos_livros@hotmail.com
Já ouviram vovó Jovelina cantando dentro de ônibus? Nossa viagem vira um deleite. Perdeu a visão num erro de cirurgia, e agora não pode mais trabalhar como diarista. Vive de ajuda e de parcos ganhos com sua bela voz. Canta Ari Barroso, Pixinguinha... pelo pouco que sei e vi, dentro de ônibus. Vai cantando e contando sua história.Linda! Uma personagem e tanto sobre a qual gostaria de escrever. Alguém a conhece?
23 ottobre 2007
SER LUZ A DOIS
Sua cor
me reflete,
eu conto histórias na sua pele.
Seu olhar
me despe,
você fantasia meu ventre em sua íris.
Ondulações suaves, te faço um laço...
ondulações frenéticas, me temes, me queres.
Seu peito esconde uma luz secular,
meu peito te saúda e chama para a chama
e que tragas tua água... nosso prana e fogo.
(By Tânia B.)
Sua cor
me reflete,
eu conto histórias na sua pele.
Seu olhar
me despe,
você fantasia meu ventre em sua íris.
Ondulações suaves, te faço um laço...
ondulações frenéticas, me temes, me queres.
Seu peito esconde uma luz secular,
meu peito te saúda e chama para a chama
e que tragas tua água... nosso prana e fogo.
(By Tânia B.)
8 febbraio 2007
Resenha – Babel
Babel esta na lista dos indicados a melhor filme no Oscar 2007. Não é uma unanimidade de crítica e público, mas, sim, tem história boa e simples, fotografia correta, uma trama que exige maturidade da direção que não nos decepciona, e atores de impacto comercial. No mais é contentar-se com duas horas de filme mesclando monotonia e alguns picos de emoção.
Nas entrelinhas há pinceladas apontando para a questão de pais e filhos que, independente de culturas e idiomas, traz sempre expectativas e vazios, culpas e anseios.
Temos adolescência, auto-afirmação, e um misto de sentimentos confusos como, desconfiança, solidariedade e intolerância, mostrados de vários ângulos, por exemplo, nas afetações da diplomacia internacional, principalmente quando se trata de suspeita de atentados contra americanos. Confusão também no senso de limite daqueles que mesmo falando uma mesma língua, compartilhando em certo sentido um mesmo destino, não se comprometem além de determinado ponto com a dor do outro. No fundo, todo o filme mostra esta tênue linha entre a confiança e o desespero, é o medo de ficar só, de ser deixado, de ser esquecido, de não ser compreendido.
O filme que faz uma colcha de retalhos de intenções humanas, seja no que toca a liberdade de ir e vir, assim como a de pensamento. Por isso mesmo, também não poderia deixar de mostrar o trato destinado aos imigrantes mexicanos nos EUA, mesmo que passando de raspão no tema.
O casal de americanos, espinha dorsal da trama que trará todos os outros conflitos, mostra o desejo de comunicação, busca de entendimento, quando saem numa viajem pelo oriente após crise ocasionada pela morte de um filho.
Confusão também da jovem japonesa surda e muda, que além das emoções e mudanças da idade, passa pelo drama da perda materna e do preconceito gritando alto na existência, levando-a a tentar se fazer amada através do sexo, como se assim pudesse eliminar a solidão super dimensionada na questão da palavra, barreira que a mantém afastada de boa parcela daqueles da sua faixa etária que não conhecem a linguagem dos sinais.
É na rotina das cidades e dos desertos com suas tradições, interdições, falatórios, silêncios e esperanças, que se movimentam as personagens de Babel, filme que apesar de bom, inteligente, cansa a muitos, lembrando-nos como nos é cansativa a intenção e o gesto de se fazer entender no caos desumano que cresce em nossos dias. Cansativo e quase impossível. Se na Babel bíblica os homens se desentendem por questão de idioma, no filme a falta de comunicação na Era das comunicações é mais doído e forte quanto mais próximas as pessoas culturalmente.
By Tânia B.
Babel esta na lista dos indicados a melhor filme no Oscar 2007. Não é uma unanimidade de crítica e público, mas, sim, tem história boa e simples, fotografia correta, uma trama que exige maturidade da direção que não nos decepciona, e atores de impacto comercial. No mais é contentar-se com duas horas de filme mesclando monotonia e alguns picos de emoção.
Nas entrelinhas há pinceladas apontando para a questão de pais e filhos que, independente de culturas e idiomas, traz sempre expectativas e vazios, culpas e anseios.
Temos adolescência, auto-afirmação, e um misto de sentimentos confusos como, desconfiança, solidariedade e intolerância, mostrados de vários ângulos, por exemplo, nas afetações da diplomacia internacional, principalmente quando se trata de suspeita de atentados contra americanos. Confusão também no senso de limite daqueles que mesmo falando uma mesma língua, compartilhando em certo sentido um mesmo destino, não se comprometem além de determinado ponto com a dor do outro. No fundo, todo o filme mostra esta tênue linha entre a confiança e o desespero, é o medo de ficar só, de ser deixado, de ser esquecido, de não ser compreendido.
O filme que faz uma colcha de retalhos de intenções humanas, seja no que toca a liberdade de ir e vir, assim como a de pensamento. Por isso mesmo, também não poderia deixar de mostrar o trato destinado aos imigrantes mexicanos nos EUA, mesmo que passando de raspão no tema.
O casal de americanos, espinha dorsal da trama que trará todos os outros conflitos, mostra o desejo de comunicação, busca de entendimento, quando saem numa viajem pelo oriente após crise ocasionada pela morte de um filho.
Confusão também da jovem japonesa surda e muda, que além das emoções e mudanças da idade, passa pelo drama da perda materna e do preconceito gritando alto na existência, levando-a a tentar se fazer amada através do sexo, como se assim pudesse eliminar a solidão super dimensionada na questão da palavra, barreira que a mantém afastada de boa parcela daqueles da sua faixa etária que não conhecem a linguagem dos sinais.
É na rotina das cidades e dos desertos com suas tradições, interdições, falatórios, silêncios e esperanças, que se movimentam as personagens de Babel, filme que apesar de bom, inteligente, cansa a muitos, lembrando-nos como nos é cansativa a intenção e o gesto de se fazer entender no caos desumano que cresce em nossos dias. Cansativo e quase impossível. Se na Babel bíblica os homens se desentendem por questão de idioma, no filme a falta de comunicação na Era das comunicações é mais doído e forte quanto mais próximas as pessoas culturalmente.
By Tânia B.
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