21 dicembre 2007

Parque de Palavras 1

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tequila
terráqueo
quilombo

!

te-quero
aqui, lá
quilombo-bom



By Tânia Barros

20 dicembre 2007

Raiar

O que ocorre?
Corro agora para longe,
sem divã, nem dinheiro.

Página em branco...
Tento, sim, planar
sobre o mundo inteiro.

A página ...
virada ...
vi(ra)da,
irada...
raiar espelho de raiar*raiar

Assim caminhamos,
escrevendo
páginas.

Assim também
cópias ilegítimas do não viver...
repetem-se ...
tem-se...
se...

Só descanso se for...
embora,
já é hora.

By Tânia Barros

O Pleno e o Vazio

Crônica

O Pleno e o Vazio

Era meio de semana, um calor daqueles... 39 graus, e o último dia de verão. Decido mergulhar no mar, uma vez que a estação findara e minha pele ainda estampava a cor da última primavera.Estiquei a canga na areia. Olhei em volta, já confortável em minha cadeira de praia: mar calmo, e transparentes águas. A primeira impressão é de comunhão, uma vez que muitos tiveram a mesma idéia nesta manhã de areias quentes e concorridas.
Vejo, então, a magra mulher de meia idade que há poucos dias ali mesmo estava quando eu caminhava no calçadão. Ajoelhada na areia, aquelas mãos realizavam vertiginoso trabalho de retirar das sacolas que a rodeavam as mais diversas embalagens, sacos, papeis variado em cores e tamanhos. Para cada saquinho retirado era dedicada especial atenção: desdobrava-o para depois dobrá-lo com maior capricho ainda. Findada a dobradura devolvia tudo à sacola maior, destinada aos saquinhos já vistoriados.
Chegara a vez de uma dessas reluzentes embalagens de batata frita. E o ritual: desenrola, desamassa, abre, olha o interior, e esfrega um pequeno pano. Esfrega com tal intensidade que se poderia deduzir fosse possuidora de larga experiência nos serviços domésticos, mas agora, sem teto e trabalho, restava-lhe cuidar bem dos únicos pertences, tudo aquilo que lhe poderia ser útil, e mesmo inútil, nas ruas da amargura, nas noites de inverno, nos dias de verão - outros que virão. Guardava, assim, também os gestos que lhe eram ainda familiares, como o de limpar algo, cuidar de, ser responsável por. Esta crível mulher do terceiro mundo, globalizado, realizava seu trabalho sem em momento algum levantar os olhos para aqueles que, como ela, banhavam-se ao sol daquela manhã.
Penso que sabia estar sendo observada como um ator no palco, ou como um animal na jaula, mas não encarava a platéia, porque certamente era um difícil papel para se viver, e o pior, provavelmente, é o que ela estaria percebendo da platéia quando esta ousava olhar para a maltrapilha. Talvez percebesse o quanto era ignorada.
Fechada a sacola - a dos papeis e sacos - sem hesitar pegou uma bolsa feminina, de couro velho e ressecado. Abriu, observou o interior, e dá início a retirada dos objetos. Em primeiro lugar uma carteira que continha uns papeis. Ela os confere e guarda. Depois, um frasco de perfume. Retira a tampa, cheira, coloca um pouquinho no pulso, cheira novamente e, com firmeza, num gesto de glorioso desapego, joga areia abaixo o líquido do frasco que retorna para a bolsa vazio desta vez. Vazio como as outras embalagens. Talvez, por algum motivo minha heroína tenha decidido mesmo é colecionar embalagens.

Era a vez do espelhinho. Deteve-se um pouco mais neste objeto. Sim, deteve-se foi no poder mágico do espelho que, inadvertidamente, deslocou o objeto a ser observado. A mulher parece conferir sua identidade, ou buscar o reflexo do que fora há alguns anos naquela breve e cruel imagem estampada no espelho que, de certa forma e, ao mesmo tempo, tanto a identificava com a imagem de milhares de humanos no mundo, como lhe relatava uma dor íntima, só dela: a miséria e a solidão? E num ato de rebelião contra tal estado de coisas joga esta imagem recolhida de volta à bolsa.
Sentia-se, talvez, ela mesma uma embalagem desgastada e sobrevivente, sendo que ela enfrentava o embate da sua angústia no difícil deparar-se com seus conteúdos perdidos... a cidadania roubada. O que lhe gritava? Sua razão de ser não era aquela para a qual estava sendo. E um saquinho de batatas fritas é pleno também quando já vazio, sem conteúdo. Mas ela era humana. Seu conteúdo estava todo lá, ou aqueles possíveis ainda, somente o envólucro distorcia a realidade. Era o mundo, este mundo que assim transformara sua pele e roupas em um trapo, e sem poder fazer muito a respeito, cuidava dos trapos que recolhia, mas estes já sem conteúdo.Sentou-se na areia abraçando as pernas e pela primeira vez mirou o mar, bem no horizonte. O que via ali? Que pensamentos, sentimentos, o primordial gesto de olhar o horizonte lhe traria agora?
Mas não se deteve muito e de arranco pegou um copo descartável ao seu lado, tomou um gole de algo, cuspiu fora, como se quente estivesse, ou apenas como se querendo esvaziar o copo somente. Líqüido qualquer que não podia matar tal sede, nem preencher tal vazio naquele instante, naquela existência. Levantou-se. Percebo-lhe o traje: apenas a longa camiseta verde rasgada nas costa deixando entrever o sutiã. Seus cabelos desciam à altura do peito. Foram lisos, agora, emaranhados. A pele da face - por força curtida pelo sol - se encarregava do contraste com a branca cabeleira. Usava um colar de enormes bolas amarelas, e pensei que aquela senhora, praieira, sim, e excluída, carregava em si um símbolo nacional. Mas não seriam as cores da bandeira, não, meu senhor!
Da bolsa de couro retira um pente, senta-se de novo e, com determinação, empenha-se no desembaraço dos cabelos - quase 45 minutos de trabalho. Mas, quanto tempo levará o desembaraço da vida? Dessa vida?
O que é o último dia do verão para cada um de nós?
Pode ser um mergulho em águas frescas, pode ser um mergulho em águas rasas, ou em águas turvas e bravias, e para um escritor, talvez, seja um dia igual a todos os outros dias em que não apenas olhou, mas viu, e não apenas viu, mas assim escreveu, do mergulho que deu no mergulho que viu.
By Tânia Barros
E-mail de contato: brazil_dos_livros@hotmail.com


Já ouviram vovó Jovelina cantando dentro de ônibus? Nossa viagem vira um deleite. Perdeu a visão num erro de cirurgia, e agora não pode mais trabalhar como diarista. Vive de ajuda e de parcos ganhos com sua bela voz. Canta Ari Barroso, Pixinguinha... pelo pouco que sei e vi, dentro de ônibus. Vai cantando e contando sua história.Linda! Uma personagem e tanto sobre a qual gostaria de escrever. Alguém a conhece?